Como poupar carvão com um relógio
ou como garantir mais uma hora de Sol por dia, por decreto.
Perto da meia noite de 26 de Janeiro de 1859, a filha mais velha da Princesa Vitória de Inglaterra entrou em trabalho de parto. O médico foi chamado, e verificou que a criança estava em apresentação pélvica, em vez da habitual apresentação de cabeça. No dia seguinte, após várias complicações durante o parto, incluindo hipóxia, administração de clorofórmio à mãe, e uma lesão do plexo braquial, nascia o futuro último Imperador Alemão, Wilhelm II.
Com um braço esquerdo paralisado e com menos 15 cm do que o direito, e danos cerebrais provocados pela hipoxia no nascimento, Wilhelm culpava e odiava a sua mãe inglesa pela sua sorte. A sua mãe, que também se culpava pelo sucedido, obrigou o pequeno Wilhelm a ter aulas de equitação, para que este pudesse ter um porte real. Wilhelm odiava também as aulas de equitação, pois caía centenas de vezes, até finalmente aprender a aguentar-se em cima de um cavalo.
Em 1888, com 29 anos e vários problemas fisicos e emocionais, Wilhelm tornou-se Imperador da Alemanha e Rei da Prússia.
Alegadamente, a política de boas relações internacionais cultivada por Otto von Bismarck, chanceler do reino alemão até então terminou nessa altura, sendo substituída por uma política errática, de agressão e de busca de poder e de retaliação contra a sua família materna, dirigida por Wilhelm II.
A 28 de Julho de 1914, Wilhelm II, dando provas de uma excelente capacidade de análise da situação congratulava-se que o ultimato enviado pelos seus aliados Austro-Húngaros à Sérvia tinha evitado a guerra certa. Dois dias depois, a 1 de Agosto, traído pelos seus aliados Austro-Húngaros que já teriam assinado a declaração de guerra antes do ultimato, a Alemanha foi obrigada a declarar guerra à Rússia, começando assim a Grande Guerra, mais tarde conhecida apenas como “a Primeira”.
A 14 de Novembro de 1914, Wilhelm e os seus ministros reunidos concluíram que esta guerra não poderia ser ganha. Mesmo assim, decidiram não capitular.
Dois anos depois, face ao tremendo desgaste energético que a Guerra provocava, fez-se luz e foi decidido instituir uma forma de poupança de carvão, de uma forma simples e barata: Aumentar o Dia, adiantando os relógios. Se o Sol brilhar mais uma hora, não vai ser preciso gastar tanto carvão, e poderemos usar esse carvão para fabricar mais balas.
A genial simplicidade desta solução apenas poderia vir de alguém com o brilhantismo já conhecido e reconhecido a Wilhelm II.
No final de 1918, Wilhelm II foi surpreendido com as notícias de que os seus adorados súbditos não queriam que continuasse nas suas funções. A 9 de Novembro de 1918 abdicou, e exilou-se na Holanda no dia seguinte. A República de Weimar foi proclamada nesse mesmo dia.
No ano seguinte, a Hora de Verão foi abandonada na Alemanha.
Houve várias experiências falhadas, em vários países do mundo, que introduziram e abandonaram a ideia brilhante de “aumentar uma hora” ao dia.
vários países europeus voltaram a introduzir estas mudanças em 1972, devido à crise energética, e em 2002, a União Europeia decidiu que era uma boa altura para garantir que todos os Estados entravam na Hora de Verão ao mesmo tempo porque… não estavam a entrar todos ao mesmo tempo. Porque claro, esta medida deveria manter-se, apesar de ter falhado em vários países, em todo o mundo.
Em 2019 a Comissão Europeia decidiu negociar com os vários Estados Membros da União Europeia a abolição da Hora de Verão até 2021, mas entretanto meteu-se o Covid e foi preciso organizar compras de 10 vacinas para cada cidadão europeu, e depois organizar o envio de lâmpadas de LED e roupa íntima feminina para a Ucrânia, e assuntos menos importantes ficaram para trás.
108 anos depois, o legado do Kaiser Wilhelm II continua em boas mãos, na Presidência da Comissão Europeia.