A gestão da energia eléctrica em Portugal é catastroficamente medíocre.
Esta afirmação algo forte demonstra-se com um gráfico, apenas:
Em 2000 e 2001 Portugal era auto suficiente na produção de energia eléctrica. O consumo seguia de perto a produção total.
A partir de 2002 começou a desenhar-se um cenério de aumento claro de consumo, com alguma dificuldade da produção de acompanhar. Durante 12 anos foi impossível produzir tanto quanto necessitávamos, e necessariamente passámos a depender de outros países para poder satisfazer as nossas necessidades energéticas.
A aposta óbvia na produção de energia através da única solução suficientemente elástica (carvão e gás) foi começada a ser desfasada, em benefício das opções “renováveis”, essencialmente eólica, que se tornou já em 2023 a tipologia de produção com maior volume em Portugal.
Até aqui (quase) tudo bem. Uma aposta lenta na produção eólica, associada a um desfasamento das opções fósseis, e a um aumento de consumo, provocou um défice que chegou a 18%, em 2008. Para ser claro, 18% da energia eléctrica em Portugal em 2008 foi comprada ao estrangeiro.
Este valor foi sendo corrigido lentamente, e ao fim de 8 anos, em 2016, conseguimos ser excedentários. Produzimos mais electricidade do que consumimos.
Qualquer bom gestor tem interesse em ter mais produto para vender. Se antes importávamos, agora podíamos exportar. Exportar é a melhor forma de fazer crescer uma economia como a portuguesa. Conseguimos ter acesso a mercados muito maiores, e talvez colocar produto a melhores preços.
Claro que Portugal, sendo um país marcadamente socialista, e tendo os seus produtores de energia eléctrica claramente dominados pelo Estado, não podia permitir esta incursão pelo capitalismo.
Ao fim de 3 anos de excedente de produção, obviamente tomou-se a decisão genial de limitar a produção, nomedamente através de fechos de centrais “fósseis”. Aparentemente não podemos produzir CO2 a partir de combustíveis fósseis, por isso passámos a produzir CO2 a partir de biomassa, que não é fóssil, mas é floresta que se desmata para produzir serradura que é depois queimada. Portanto, reduzimos o captador de CO2 (as árvores), para produzir CO2 da biomassa. Gestão de topo.
Entretanto, e porque cada vez existe mais consumo de energia eléctrica, eventualmente devido às políticas (subsidiadas) de aumento de frotas de automóveis eléctricos, o consumo total de energia eléctrica em Portugal cresce cerca de 5% entre 2020/2021, e 2023.
O que fazem os nossos gestores de produção eléctrica? Produzem menos, claro. Em 2 anos de aumento de consumo, a produção total decresce para racios nunca vistos. Em 2023 o défice de consumo vs. produção de energia eléctrica em Portugal é de 23% (!!).
Quase um quarto da energia eléctrica que consumimos é importada, e portanto não é produzida em Portugal. Pela simples razão de que, algures na União Europeia, alguém se lembrou de pagar a alguém em Portugal para mandar fechar as centrais mais económicas e eficientes de produção eléctrica, para apostar em tecnologias pouco testadas e mais caras. Perdemos a soberania na única capacidade de produção de energia que temos (porque não temos combustíveis fósseis no nosso país), e como sempre, pagamos aos outros para nos venderem o que não somos capazes de produzir.
Olhando de novo para o gráfico acima, é claro que o défice que temos, cerca de 13TWh, não poderá ser substituído, em tempo útil, por nenhuma opção que não o retorno ao consumo de combustíveis fósseis, porque é a única que tem flexibilidade suficiente para ser voltada a ligar, rapidamente.
Seria necessário duplicar o parque eólico na totalidade para responder a este défice, e não sei se temos montanhas suficientes para colocar mais geradores.
Seria necessário construir o mesmo número de barragens que já temos para poder responder a este aumento de consumo. E também não temos mais rios onde se possam construir barragens.
Ao aumentar o número de carros eléctricos em circulação (bem como alternativas eléctricas a outras appliances de geração de energia/calor através de combustíveis fósseis), iremos continuar a aumentar o nosso consumo de electricidade, e iremos continuar a ter a mesma capacidade produtiva (ou menos, se continuarmos a rejeitar os combustíveis fósseis).
Claro que podemos continuar a importar electricidade. Mas passaremos a ser dominados por quem nos fornece, e um dia poderão aumentar os custos como bem entenderem.
Vivemos num país de gestores medíocres, e iremos ter que pagar esta factura.