Eu gosto de gráficos. Acho que quando analisamos um problema, devemos olhar para a floresta, e não para as árvores. E um gráfico é uma floresta de dados, em que vemos todas as árvores individuais, e a sua relação com a floresta.
Por vezes não é fácil encontrar dados fidedignos, que nos permitam construir os gráficos correctos, mas quando temos dados fidedignos, a realidade que se consegue verificar é surpreendente, e conseguimos contrariar as narrativas que possam ser construídas apenas por observações empíricas.
Tomemos como exemplo o gráfico abaixo. No site do IPMA obtive a informação oficial das observações de toda a precipitação em Portugal Continental desde 1901. No gráfico, são as colunas a cinzento. Visto que estes dados são caóticos, precisamos de encontrar uma média.
Visto que nada influencia mais o clima na Terra que a actividade solar (creio que não é preciso explicar isto, mas posso fazê-lo em breve), e visto que a actividade solar funciona em ciclos de aproximadamente 11 anos, tentei alisar os dados, aplicando uma média móvel de 11 anos. Assim conseguimos perceber quais as tendências de precipitação, e se estamos em algum momento anormal em relação à precipitação.
Esta média móvel de 11 anos está representada pela linha azul. Em 106 anos, esta linha azul teve um valor mínimo (linha laranja) de 469mm em 1939, e um valor máximo (linha verde) de 658mm em 1969. Este é o normal para Portugal, nos últimos 106 anos (até 2018). O valor médio é 560 mm, e está representado pela linha vermelha.
Nos últimos 50 anos, o valor da média móvel anual de 11 anos tem estado mais próximo da média que dos extremos.
Claro que 106 anos, geologicamente, não é nada. É um piscar de olhos na escala da existência do nosso planeta. Portugal tem quase 1000 anos de existência, mas infelizmente não se fazia registo de precipitação quando D. Afonso Henriques o fundou.
Mas se sabemos que, num período de 106 anos, numa métrica suficientemente longa e alisada (e sempre tomando valores reais e fidedignos), estamos dentro de uma banda de valores “normais”, e que já se verificaram antes, então não podemos dizer que estamos numa situação anormal. Se não é anormal, é porque esta é a realidade profunda e intrínseca ao nosso território. Somos um país onde chove pouco, e temos pouca capacidade agrícola.
Se nos falta água, o problema não é o clima, não é menos chuva, porque não estamos com menos chuva. Se não é do lado da entrada, o problema não é uma seca, é uma falta de água. Talvez a utilização excessiva seja o problema? Talvez a tentativa de tornar o Alentejo uma planície verdejante, com amendoeiras e oliveiras a perder de vista não seja a melhor solução? Ou talvez seja, mas devemos ir mais devagar?
A solução infantil de todos os problemas é queixarmo-nos dos outros. A solução inteligente é entender o que causa o problema, e tentar eliminar essa causa.
Quando eliminamos as hipóteses impossíveis, tudo o que sobra, por muito improvável que seja, é a verdade.